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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

UMA BANDEIRA

É em meio a informações de uma imprensa duvidosa; dinheiro na cueca; uma juventude colorida e com valores distorcidos; um país cheio de contradições e com uma sociedade insegura, mal educada, egoísta e, ainda alienada que sobrevive o hardcore politizado do Dead Fish, banda que em expressões populares podemos chamar de Elefante Branco, pois levantam questões que incomodam muita gente. Segundo Alyand, baixista e um dos membros mais antigos "A gente tem essa coisa de dar a cara a tapa, de falar a verdade... Essa é a bandeira do Dead Fish: ser honesto".

A banda veio para mais uma apresentação em Fortaleza, cidade que já está há nove anos no caminho desses capixabas que atualmente formada por Rodrigo (vocal), Alyand (baixo), Philippe (guitarra) e Marcos (bateria), completa 20 anos de história em abril próximo. Pra comemorar prometem novo álbum, quem sabe um DVD.

Eu fui à passagem de som para entrevistá-los, lá encontrei Philippe, Alyand e Marcos (o Rodrigo já tinha ido para o hotel). A conversa com o trio você confere abaixo.

Qual a opinião de vocês sobre a ação da polícia na favela do Alemão, no Rio de Janeiro? Até que ponto vocês acham que aquilo é real ou ficção?

Alyand: Parte disso é um acordo. Acho que a polícia do Rio nunca tomou uma atitude como essa e, pra mim, cheira a acordo, um acordo grande em quê um antigo traficante não quis fechar - porque a gente tem um evento muito grande pra vir que é a copa e isso envolve muito interesse, tanto para o crime [organizado], quanto para o governo -, na minha opinião, tem algo relacionado a isso, a um grande acordo que alguém não quis fazer.

Marcos: Eu tinha conversado já com o Alyand sobre isso outro dia que ele foi lá em casa. É meio que: "Vamos dar uma acalmada nisso aí." Mas isso não vai acabar assim: chegando, dominando, acabou... Não! Concordo com o Negão [Alyand].

"o sistema continua o mesmo."  

Philippe: É. Ficou, acho que, grande demais, tanto a questão de mostrar serviço, de colocar exército, de ficar o mundo inteiro meio: "Caralho! Está tendo guerra civil no Rio, vai ter a copa." Mas ao mesmo tempo eles estão mostrando que estão revertendo a situação.
Pra mim, sai de um canto, vai pra outro; o sistema continua o mesmo. Eles vão, tiram aqui um pedaço, arrancam uma favela, constrói um monte de condomínio... Não vai mudar o que é. O problema continua o mesmo, a lei continua do mesmo jeito.
Tem essa questão de, eu acho, ter sido um pouco sensacionalista. A nossa fonte de referência de jornal, de matéria sobre isso, quando fala sobre violência no Rio fica complicado, eu acho que eles dão uma apimentada a mais.

Sobre o público da geração 2000.

Alyand: É engraçado isso. As vezes a gente fica conversando assim, eu, o Rodrigo, os meninos sobre essa renovação. A gente fica meio abismado, a cada tempo que passa vai ficando mais velho e fica surpreso com a renovação, a nova geração chegando e a galera da década de noventa que continua ainda ali, quase com um pézinho nos 30 e poucos. Eu acho legal!
Uma banda de vinte anos com uma média de público de 700 mil pessoas por cidade é bem gratificante.
É satisfatório chegar num show, ver a meninada com doze, treze, quatorze anos ali e você trinta, trinta e cinco vendo isso acontecer com sua banda, vinte anos depois ter esse respeito... Poxa! É surpeendente.

"Vai ficar velho e vai continuar roqueiro, se é roqueiro continua." (Marcos)

Marcos: Vai reciclando, mas os velhos continuam. Os velhos não se vão, os garotos ainda estão aqui.
Outro dia foram duas menininhas no camarim e falaram: "Meu, meu pai adora sua banda!" Eu falei: "Nossa, cara! Tô velho mesmo, né?!" A molecadinha aí e os velhos estão indo no show. Sei lá, isso nunca vai acabar, você vai reciclando e tem sempre os velhos que vão estar curtindo. Que o velho quando fica velho não vai ouvir Cauby Peixoto, não vai! Vai ficar velho e vai continuar roqueiro, se é roqueiro continua.

Tem alguma banda dessa nova geração que vocês destacariam?

Alyand: Da nova geração? Pô! Não pode falar dos véio? É porque vou ser bem sincero, a nova geração eu gosto de algumas coisas, mas nada me surpreende. Eu ouvi o último disco do Korzus, eu gosto muito, o show é impressionante. Bom, dessa nova geração, eu gosto muito do Garage Fuzz ao vivo... Eu não sou um frequentador assíduo de show, eu procuro algumas coisas na internet e nada tem me surpreendido, então realmente não sei o que te falar.
"Hoje é tudo igual!" (Alyand)
Marcos: Não escuto. Escuto banda velha que faz disco novo; tipo ele [Alyand] falou: Korzus, Garage Fuzz - puxando a sardinha de leve (risos).

Alyand:...tem o Galinha Preta de Brasília que não é tão nova, mas me surpeende muito ao vivo, acho perfeito.
percebe que tá muito certinho, as pessoas tocam bem hoje, tem o equipamento... a parte musical não tem tanta personalidade mais.
Acho que antes essas bandas - que a gente tava falando, antiga – cada uma soava de um jeito, era meio torto, tinha um timbre diferente... Hoje é tudo igual!

Marcos: Essas banda antiga você escuta, sei lá, Maestro Zezinho, uma nota "pen", já sabe quem tocou. Agora, você escuta 15 bandas que faz um som parecido e "quê que é?" Não sei! Não sei se a molecada que acompanha sabe. As bandas eram bem diferentes umas das outras e você sacava logo a sonoridade, vocal...

Alyand: Tem poucas bandas que a gente vê, mas acho que pegando o bolo, penerando são poucas, mas tem bandas novas, boas e com musicalidade. O próprio NXZero têm musicalidade, o Granada que a gente tá sempre junto...
Tem bandas que estão trabalhando e não quer dizer que a gente desmereça o trabalho, é uma questão assim: Eu prefiro coisas mais antigas, que me tocam mais. Essas bandas novas têm o espaço delas, tem o respeito, musicalidade... Tem coisas boas ali, só que não é uma coisa que nós acompanhamos tanto, a gente é velho.

Vocês estão preparando algum material (CD/DVD) para o próximo ano?

Marcos: Tá difícil, mas a gente tá preparando. Tem música, letra, só que tá sem tempo pra ensaiar. O Negão [Alyand] tá morando em Vitória...

Alyand: Já vai me culpar de novo, né?

(risos)

Marcos: Rapaz, deixa eu terminar. Agora, quando ele fica aqui a gente pega a semana pra ensaiar e compôr. Mandamos a base, a gente tá montando as músicas... Tá acontecendo. Tem aí já uns cinco, seis esboços bom já; tem umas duas já com voz. Tá rolando, o material tá pintando. Previsão... 2011. Vamos falar assim, né?

Alyand: Na verdade a banda agora vai ter que chamar pra essa reponsabilidade porque a gente faz 20 anos em abril, e precisamos dar uma corrida com relação a esse disco. O Philippe tem as composições dele, eu tenho as minhas, a gente precisa sentar os dois; juntar eu e o Marcos, fazer as coisas todas; sentar com o Rodrigo, as letras. A prícipio nós precisamos lançar para o nosso público, dar esse presente, afinal são 20 anos de banda. O público pode esperar que, sei lá, até março ou abril o disco novo do Dead Fish tá na mão.... 20 anos... talvez um DVD.

"Nossa política é ser honesto, fazer música do jeito que nós gostamos, musica para os quatro."

- São vinte anos de história. O que vocês trazem nessa bagagem? Qual a ideologia da banda?

Alyand: O legal do Dead Fish é que cada um tem sua individualidade, isso ajuda por exemplo, o Rodrigo tem a personalidade dele, a crença política; eu tenho a minha, prefiro não levantar nenhuma bandeira, gosto da minha banda do jeito que ela caminha, no time dela; a gente têm o nosso lado político, o lado social que a gente gosta - cunho que a gente gosta de ostentar, de meter o dedo na ferida, diferente de todas as bandas que estão aí hoje, que boa parte fala, mas boa parte não fala -, a gente vive num país que é difícil, com muita contradição, muita coisa ruim, como o que está acontecendo no Rio de Janeiro. 
A gente tem essa coisa de dar a cara a tapa, de falar a verdade... Essa é a bandeira do Dead Fish, ser honesto, trabalhar tudo sempre na individualidade dos quatro - o Philippe tem o jeito dele de trabalhar, o Marco o dele, o Rodrigo da forma dele - Essa química eu acho que dá a cara do Dead Fish, honestidade, falar o que a gente pensa, da forma que nós acreditamos, sempre conversando os quatro, sem levantar uma bandeira X ou Y, tirando o Rodrigo que é vegetariano, que a gente respeita porque os outros são carnívoros. Nossa política é ser honesto, fazer música do jeito que nós gostamos, música para os quatro.

Um comentário:

  1. Muito bom seu blog.

    Se houver a possibilidade de fazermos uma parceria... Que tal?

    http://alivethroughthemusic.blogspot.com/

    Dá uma olhadinha lá.
    Valeu.

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