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terça-feira, 16 de novembro de 2010

"DEBAIXO DESTA CINZA TEM MUITA LENHA PRA QUEIMAR"

O título vem da inspiração de Adoniran Barbosa em "Já fui uma brasa", música onde o sambista fala sobre o estouro da então Bossa Nova e "dos meninos deste tal de iê-iê-iê". O poeta do samba paulistano completa centenário este ano e para comemorar, o Brasil inteiro realiza diversas homenagens. Em Fortaleza uma delas aconteceu no I Festival Viçosa Samba Chopp, no período de 12 a 14 de novembro, em Viçosa do Ceará e, claro, os endiabrados Demônios da Garoa estiveram presentes.

Na terceira formação (da original não tem mais nenhum), atualmente com Roberto Barbosa, o "canhotinho" (cavaquinho e vocal), Izael Caldeira (timba e vocal), Ricardinho Rosa, neto do fundador do grupo, Arnaldo Rosa (percussão e vocal), Dedé Paraíso (violão e vocal) e Serginho Rosa (pandeiro, afoxé e vocal), o grupo se caracteriza como os maiores intépretes de Adoniran Barbosa pela forma irreverente e autêntica com que cantam suas composições.


“Trem das Onze”, "Saudosa Maloca" e "O Samba do Arnesto" são algumas das canções que, com certeza, estarão presentes no próximo CD e DVD, previsto para ser lançado no próximo ano. O projeto comemora além do centenário do poeta da alma paulista, os 68 anos de existência do Demônios da Garoa, grupo vocal mais antigo do mundo segundo o Guinness Book (livro dos recordes) e que promete perdurar ainda por muito mais tempo.


Antes de subir à Serra, o grupo se apresentou no Oásis onde me recebeu para esta entrevista.

Marina Ratis - Existe algum segredo, podemos dizer assim, para que o grupo tenha conseguido chegar a 68 anos de história e sempre atraindo novas gerações?

Ricardo Rosa - Na verdade até a gente se pega pensando nisso. A gente não tem explicação, é uma coisa divina. Acreditamos que fazer o que gosta de verdade e fazer de coração. O grande segredo é não mexer em uma coisa que ta dando certo há tanto tempo. Meu avô (Arnaldo Rosa, fundador do Demônios da Garoa) já dizia: “Não se mexe em time que está ganhando.” Então a gente mantém as características, vem só inovando as vezes em alguma parte ou outra, mas sem ferir a tradição do grupo.

MR - Dessa nova geração, qual compositor, sambista vocês destacariam?

Dedé Paraíso - Thiaguinho do Exaltasamba, fazendo legal...

Ricardo Rosa - Diogo Nogueira compôs o samba-enredo da Portela, manda bem.

Dedé Paraíso -Tem uma turma legal, uma galera boa fazendo música aí.

MR - Pra você Ricardo [Rosa] (neto do fundador do grupo, Arnaldo Rosa). Fala sobre a responsabilidade de tocar com o Demônios da Garoa.

Ricardo Rosa - É grande, é bem grande! Mas aí eu venho aprendendo a cada dia com cada um deles aí.

Izael Caldeia - Não é conosco, é com o nome Demônios da Garoa.

Ricardo Rosa - É verdade. São um dos meus companheiros atuais, os que mais me apóiam e eu venho aprendendo com cada um deles pra poder um dia mais tarde, quando vier um companheiro mais jovem, poder passar 'É mais ou menos por aqui'. Na verdade eu vivo um sonho e ao mesmo tempo eu tenho uma grande responsabilidade, mas me sinto totalmente em casa, então to feliz da vida.

MR - Vocês estão preparando alguma novidade?

Dedé Paraíso - Com certeza. CD e DVD.

Ricardo Rosa - A gente ta com um projeto comemorando os cem anos do Adoniran. O nosso DVD vem comemorando cem anos do Adoniran e mais os 68 do Demônios da Garoa. Então ta na fôrma, a gente já ta com o projeto, ainda estamos preparando. Vai ser gravado ano que vem - íamos gravar esse ano, mas por conta da nossa agenda muito corrida não deu pra conciliar a gravação - acho que até março/abril já deve estar na praça pra vocês.

MR - Para os que chegaram a conhecer e ter algum convívio com Adoniran Barbosa, têm alguma situação ou curiosidade vivida com ele que vocês possam contar?

Sérgio Rosa - O Demônios conheceu o Adoniran em 1949. Ele fazia parte do casting do filme "O cangaceiro", era um dos personagens e o Demônios gravava a trilha sonora do filme. Daí pra frente começou uma amizade muito grande e tudo, depois, que ele compôs, ele passou para os Demônios da Garoa e a gente ta aí trilhando as peculiaridades do Adoniran, um camarada que, realmente, foi a essência do samba paulistano; um dos monitores, desse tão falado samba paulista, junto com os demônios da garoa nessa criação. E estamos aí, até hoje levando a bandeira da música paulista, a bandeira da música popular brasileira e com muita satisfação.

Da convivência com ele... Adoniran não andava de elevador. Tinha medo falava (imitando a voz de Adoniran) "vai cair o fundo", não andava de metrô, fumava pra caramba, mas não comprava cigarro - 'Adoniran por que você não compra cigarro?' (imitando a voz de Adoniran novamente) 'Se eu comprar eu fumo muito, então eu vou pedindo e vou fumando'.

Izael Caldeia - Só bebia pinga quando não tinha álcool.

Companheiros em coro - "SÓ BEBIA ÁLCOOL QUANDO NÃO TINHA PINGA!"

(risos geral)

Roberto Barbosa (canhotinho) - Uma certa vez ele estava internado e o médico perguntou pra ele: 'Você toma álcool né, Sr. Adoniran?' e ele (imitando a voz de Adoniran) 'Só quando não tem cachaça.' (risos)

MR - Já que vocês estão prestando essa homenagem à Adoniran, que mensagem deixar para o público sobre seu centenário?

Ricardo Rosa - O que nós temos é que agradecer o carinho do público daqui e, prestigiem a cultura do Adoniran, as obras do Adoniran que é muito bonita e é uma coisa que o Demônios defende a tanto tempo né? E o público vem se renovando e a gente ta feliz da vida, chegou aqui e todo mundo recebendo a gente. Um beijão pra todos e obrigado pelo carinho com o Demônios da Garoa.

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