Páginas

.: Um blog de entrevistas :: histórias : opiniões : música :.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

QUEM FALOU QUE ACABOU O ROCK'N ROLL?

Tomo a licença de colocar como título deste post o nome do trabalho mais recente de Celso Blues Boy, o cara que introduziu ao Blues uma nova linguagem musical, cantando em português.

O cantor, compositor e guitarrista veio à Fortaleza com sua turnê que está na estrada desde 2008 e tem previsão para encerrar-se em dezembro. Ao lado da banda pernambucana Up Town Band formada por Lula Borges (Baixo), Giovanni Papaléo (Bateria) e Daniel Diniz (Guitarra), se apresenta no Festival itinerante Oi Blues By Night que, na capital cearense, está acontecendo desde agosto no Bar Cultural Acervo Imaginário. O festival em parceria com a Saraiva MegaStore realizou neste mês o primeiro "Workshow Oi Blues by Night" recebendo os fãs da boa música para tirar dúvidas e conferir de perto seu ídolo.

Celso trilha sua trajetória na música desde a metade da década de 70. Com apenas 17 anos integrou a banda de Raul Seixas, além de tocar ao lado de nomes consagrados da MPB como Renato e Seus Blue Caps, Luiz Melodia, Sá & Guarabira, entre outros. "Posso dizer que o Sá e Guarabira até hoje são grandes amigos, praticamente me adotaram - que eu era moleque; o Raul foi um grande amigo que eu tive; o Renato é meu amigo até hoje", conta o Blues Boy que também impressionou a gringa. A revista Backstage o colocou entre os 20 maiores guitarristas da história; tocou no célebre Festival de Montreaux, na Suíça; dividiu palco e gravou músicas ao lado da expressão máxima do Blues, BB King, do qual também tornou-se amigo.

Considerado um dos artistas-símbolo da década de 80, emplacou hits como "Marginal", "Damas da Noite", "Tempos Difíceis", "Fumando na Escuridão", "Sempre Brilhará" e as trilhas de "Rock Estrela" e "Bete Balanço" ao lado de Cazuza. O ano de 1984 marca a estreia solo de Celso com o disco "Som na guitarra" estourando clássicos como "Aumenta que isso aí é rock'n'roll" e "Blues Motel".

"Minha fama não é do público do Blues, meu público na realidade é o que vem da época do Rock Brasil dos anos 80 onde eu estourei um monte de música na parada. Mas, logicamente por eu tocar Rock e Blues, e ter começado essa história aqui, o público de Blues também faz parte do meu público" conta.

Celso Blues Boy consagrou-se como lenda, ídolo e referência do Blues Brasileiro em mais de trinta anos de carreira que não para por aqui...

Antes do "Workshow Oi Blues By Night" eu bati um papo com essa lenda do Blues e do Rock'n roll nacional que você confere abaixo.

Como você teve o estalo para colocar a pitada brasileira no blues?
Para te dizer a verdade não foi uma coisa intencional. Simplesmente é uma maneira natural de como eu componho o Blues que saiu assim.

O que você acha que modificou no Blues aqui no Brasil de 1970 pra cá?
Lá pela metade da década de 70 abriu o primeiro pub de Blues em Copacabana. Foi uma casa que fez muito sucesso e a gente era uma banda da casa porque o baterista era o dono. A banda era a Aeroblues. Então a gente começou a ver uma efervescência na zona sul carioca dessa cena de Blues comparando com um negócio que aconteceu, mais ou menos, com a Bossa Nova só que em outro padrão, um outro tipo de música, outro tipo de escala. A partir do final dos anos 80 começa a se criar uma cena nacional de bandas de Blues e eventos que promoviam bandas. Eu mesmo participei como jurado lá em Porto Alegre do Fernando Noronha quando era garoto. Começou o concurso e eu: 'Ó! Aquele garoto ali já ganhou. Não precisa escutar que não vai aparecer nenhum.' Até hoje ele fala isso comigo (ri).
(veja também entrevista com Fernando Noronha http://migre.me/1O64c)

E o Blues atual?
Acho que o grande problema do Blues hoje em dia... Não hoje em dia, que esse problema é crônico. É o problema autoral do Blues. Porque a grande maioria das bandas fazem letras em inglês e fazem um som muito semelhante, pra não dizer igual, ao das bandas americanas e dos blues mens americanos. Você pega um troço com uma estrutura que não é nada original e canta em inglês. Você está fazendo praticamente, pra mim é a mesmíssima coisa, que os outros fazem. Durante algum tempo houve até polêmicas que eu sempre considerei desnecessárias de que: “Ah, será que pode cantar Blues em português?” ou “Blues não pode ser cantado em português”. Uma bobagem atrás da outra. E, na verdade, se tivesse havido uma preocupação autoral, acredito que o Blues já tivesse melhor ainda do que está. Muitas vezes melhor. Acho que a partir da hora que se encontrar uma veia, um momento apropriado, onde estiverem artistas criando uma coisa autoral esse salto eu acho que vai poder ser.

Tem algum episódio engraçado ou curiosidade que você possa contar da sua amizade com BB King?
Ah! Teve várias, né? Mas teve uma que eu achei legal – porque meu inglês é do cais do Porto, ridículo. Foi quando o BB King foi gravar comigo no meu CD e ele tava em São Paulo e até o Sá apareceu – o Sá do Sá & Guarabira. O Sá é uma pessoa muito inteligente e letrada, tem um senso de humor fantástico e me conhece desde guri. Lá pras tantas o BB King chega e diz: “You kill me?” e eu digo “O quê? ta maluco rapaz, sou teu amigo, vou matar você?” Nessa o Sá já ta caindo no chão. Porque Não era “você me mata”, era “você me avisa”. E ele [BB King] fazendo aquela cara de “não tô entendendo nada” (risos).

Quem foi que falou que acabou o Rock’n Roll? Título um tanto provocador do seu trabalho mais recente.
A graça está em não dizer quem foi que falou. É perguntar quem foi que falou. Porque muita gente falou um monte de besteira. De uns hoje em dia pra cá muita gente ficou falando que acabou o rock, acabou a guitarra, que o solo não existe mais... To fazendo uma média de setenta shows. Isso porque não dá pra fazer mais, porque senão eu ainda faria. Então você imagina a gente que gira o Brasil inteiro, do Rio grande do sul a Teresina. E tem mais, ao contrário do que você possa pensar, 80% do público é de jovem, muito jovem mesmo. Eu penso assim, se você tem uma carreira tão extensa quanto a minha, está tocando até hoje e receber a admiração, o carinho, o respeito dos outros, é sinal que a coisa vai muito bem. É sinal que existe um outro lado da moeda que não é aquela juventude que segue apenas o que uma ou outra emissora de televisão sugere.

Está com algum projeto novo?
A gente está encerrando essa turnê em dezembro. Ela está desde 2008. Em 2009 fui fazer um show no Rio e o Tico Santa Cruz era meu fã - eu não conhecia ele - e pediu para dar uma canja e ficou amigo. Agora quando foi esse ano, eu fui tocar no Festival de Guaranhuns e ele foi também, e por acaso, a gente foi na mesma van que levou a gente do aeroporto pra lá. Passamos uns dois três dias lá. Todo dia a gente saía pra beber alguma coisa e bater um papo. E ele falou: “Pô, Celso, você não quer fazer alguma coisa? Não está afim de lançar um CD de música inédita tua com os Detonautas te acompanhando?” eu falei: “Tico, ó, eu não lanço nada desde 2000” - porque eu decidi que eu ia trabalhar com composição, mas sem pressão. “Bicho, você acabou de falar com um cara que está com umas quarenta e cinco músicas inéditas”. Aí escolhemos as músicas, fomos para o estúdio... Foi muito legal, a melhor gravação que eu já fiz na minha carreira, disparado. E é legal porque desde o meu primeiro LP que fez sucesso, nunca mais tive tempo pra compor. Hoje em dia eu moro retirado numa chacrinha. Então eu fico muito em casa e dá tempo de sobra pra você poder compor, escolher, fazer arranjo, mudar o que quiser da letra... A gente lança isso em fevereiro no máximo.

E já tem nome?
(ri) É a única coisa que não tem ainda. Já está tudo pronto, só falta o nome.

Aumenta que isso aí é Rock'n roll www.myspace.com/celsobluesboy

Um comentário:

  1. Tirando os problemas técnicos, o show do celso foi muito bom. Ainda bem que tive oportunidade de ver o show de uma lenda viva do blues.

    ResponderExcluir