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segunda-feira, 20 de setembro de 2010

CURUMIN COSMOPOLITA

Curumin é o codinome do multi-instrumentista Luciano Nakata Albuquerque, uma das figuras mais brasileiras que eu já vi, não só pela música, mas pela aparência também. Olhos puxados, pele morena, um paulista descendente de japoneses e espanhóis. Se Brasil é sinônimo de diversidade, quer mais brasileiro que isso?

O nipo-hispano-brasileiro começou a carreira cedo, tocando violão entre os oito e nove anos, já na adolescência montou algumas bandas e começou a querer aprender a tocar bateria. Desde o começo sempre ia em busca dos caminhos que levavam à música “...onde tinha música, onde tinha gente tocando, eu tava indo atrás” conta.

A primeira banda de maior expressão foi a Zomba com a cantora Paula Lima, a proposta era fazer “um soul brasileiro”. Depois vieram Arnaldo Antunes, com quem trabalhou por uns dez anos, Vanessa da Mata, Céu, Guizado, Otto, Rômulo [Fróes] e tantos outros artistas brasileiros. Fora do Brasil se uniu a nomes como: Blackalicious, Tommy Guerero e General Electric.

Agora, como ele consegue fazer parcerias com tanta gente bacana da cena alternativa? A resposta é simples: “É bem natural, são conexões, coisas da vida” diz o músico que, mantendo uma “postura pé no chão” lançou, sem pretensões ou expectativas, seu primeiro trabalho solo, “Achados e perdidos” em 2003, simplesmente pelo gosto de fazer música. O segundo, “JapanPopShow”, lançado em 2008, da mesma forma, conquistando não só o público brasileiro, mas gente de todo o mundo.
Curumin é um verdadeiro alquimista da música, sem se prender a rótulos faz uma mistura de sons afro-brasileiros (samba, reggae, funk, hip hop, soul...).

Pela primeira vez em Fortaleza com o trabalho solo e a banda que o acompanha, a The Aipins, fez dois shows. O primeiro na IV Mostra BNB da Canção Brasileira Independente e o outro, no dia seguinte, no Bar Cultural Acervo Imaginário. A apresentação, por ser a primeira, gerou muita expectativa no cantor, pois o público já vinha cobrando sua vinda à cidade.

Curumin é um cara que lida muito com o acaso ou como ele diz “coisas da vida”, um cara que chama talento de sorte, que não tem frescura, toca em qualquer tipo de lugar e situação, se desdobra, assume os riscos. Tudo pela música: “Pô, eu gosto de tocar mesmo, é isso que eu gosto de fazer, é o que eu sei fazer na vida então, quanto mais eu puder estar fazendo isso, eu me sinto bem.”

Abaixo segue entrevista onde ele fala sobre os prêmios da música brasileira, as parcerias, cena independente, disponibilização de música gratuita, a "Black Aipins" (rs) entre outras coisas.

Você já tocou com Arnaldo Antunes, Paula Lima, Céu, Cidadão Instigado, Guizado, Lucas Santtana, B Negão, entre tantos outros. Como consegue fazer parcerias com tanta gente bacana da cena alternativa?

É engraçado isso, é uma coisa bem da vida, sabe? Você vai se encontrando com as pessoas que têm a ver com você. É bem natural. Eu gosto do som do Lucas [Santtana], aí vou para o show dele, falo com ele... Vou ao Rio, o B [Negão] vai lá no meu show e a gente troca uma ideia. A Céu, eu já conheço ela há mais tempo, de criança mesmo. Enfim, são conexões, coisas da vida.

Qual a sua opinião sobre os prêmios da música brasileira?
Tenho acompanhado pouco. A galera têm falado dos prêmios do Multishow e VMB que foram ganhos pelo Restart. Esses prêmios têm uma coisa interessante, são de voto popular, voto do público. Não é crítico. Mas eu não sei, eu nunca nem ouvi o restart, mas todo mundo fala que é muito ruim... Do pouco que eu conheço, eu sei que eles têm uma coisa de ser produto de mercado, uma coisa mais ou menos planejada. Esse tipo de produto tem muita promoção, pessoal tenta colocar eles, talvez até ganhar prêmios pode ser uma dessas promoções também. Contrata um pessoal pra ficar ligando ou um hacker pra ficar colocando ali milhões de votos, mas eu não acho que seja tão representativo assim, as vezes tem fã maluco que fica ligando, ligando, ligando... que vale por trinta que podia ter ligado.
A música é tão diversa, principalmente hoje em dia, né? Eu já fui júri do prêmio Bravo, eu realmente acho que todos esses prêmios ficam sempre voltados para um nicho. Não acho que seja representativo de um todo, até que para isso seria muito difícil. Tem um lance que é muito importante que eu considero. Prêmio em música não tem quantitativo, "esse é melhor que esse". Dessa nova geração digamos, eu, Lucas Santanna, B Negão, Céu, Cidadão [Instigado], a gente mais ou menos tem ali coisas em comum, mas pra falar qual é o melhor... Cidadão é super diferente de mim, o Lucas também super diferente, o B [Negão] também vai pra outro lado, a Céu vai pra outro, todos tem ali qualidades, coisas que não são tão boas, defeitos...

Como foi tocar pela primeira vez em Fortaleza com trabalho solo e na IV Mostra BNB da Canção Brasileira Independente?
Foi legal. Eu tinha essa expectativa de tocar em Fortaleza. Foi a primeira vez e já vinha sendo cobrado pelas pessoas: 'poxa você vai pra todo lugar e não vem pra Fortaleza'. Tinha bastante gente e o pessoal foi bastante receptivo.

Aproveitando que você veio tocar na mostra de música independente, fala como você vê a cena independente brasileira?
Ta se formando. São coisas novas ainda. Até pouco tempo atrás a música tava na mão de grandes gravadoras e isso era limitador porque eles que escolhiam quem eles iam lançar. Música independente ficou restrito a Itamar de Assumpção, às bandas punks, mas fora isso, muito difícil, muito difícil... Então agora tá começando. A internet ajudou. Tem muita coisa confusa, muita coisa pra se organizar, mas também muita produção, muita gente com vontade de falar, de fazer as coisas, muita gente com vontade de fazer e não conseguindo fazer porque ainda não conhece direito o como fazer, por onde ir, muita gente que tem isso e faz lindamente, revelações de grandes talentos a toda hora. Acho que o Brasil é um país abençoado nesse sentido e vai aparecer muita gente boa.

Você é um dos artistas brasileiros que integra o Free Music Archive (FMA), projeto do americano Jason Sigal que reúne mais de 24 mil músicas de todos os tipos e partes do mundo. A proposta é a liberação da música gratuitamente. Fala sobre a importância de um projeto como esse para quem trabalha de forma independente.
Eu fico bastante feliz. A gente também trabalhou bastante nos últimos anos pra que isso acontecesse. Fomos tocar em todo tipo de situação, em vários tipos de lugares, sempre abertos pra poder promover nosso trabalho. A gente sabe que com tanta música hoje em dia, é difícil você poder chegar até as pessoas; e ir até um lugar e tocar é muito importante. Então a gente trabalhou muito nisso e também teve sorte de ser bem recebido; de tocar na hora certa, no lugar certo, são vários fatores e fico feliz. Pô! Eu gosto de tocar mesmo, é isso que eu gosto de fazer, é o que eu sei fazer na vida, então, quanto mais eu puder estar fazendo isso, eu me sinto bem.

Como foi a formação da banda The Aipins?
O The Aipins, eu vou até contar uma história engraçada aqui, aproveitando o momento. O nome surgiu um dia que eu tava assistindo TV, aí tinha uma propaganda do Marcelo D2 sendo entrevistado e ele falou: 'Ah, esse disco é muito legal, tem a participação de não sei quem e bla bla bla, o "Black Aipins"'. Daí eu falei: 'Puta! "Black aipins" é um nome muito legal, queria muito ter dado esse nome pra minha banda'. E fiquei perguntando 'Pô! Quem é "Black aipins"?' e era Black eyed peas. Daí falei 'Que sensacional que o nome não é "Black aipins"', então eu coloquei o nome Curumin e os Aipins que é também pra não ficar tão parecido.
Os Aipins, a gente fechou agora essa formação desde o “JapanPopShow”, então desde 2008, montamos um triozinho aí com o Loco Sosa, que toca bateria no Los Pirata também, no Aipins toca programações - é o cara que tocava comigo percussão e eu bateria no Arnaldo Antunes, a gente tocou junto durante um tempo com o Arnaldo - e, aqui em Fortaleza excepcionalmente, quem ta tocando comigo no baixo é o Zé Nigro, mas quem faz normalmente é o Lucas Martins que toca com a Céu também.

Novos projetos.
Eu to assim, naquela fase da caça, sabe? Que eu acho que é o primeiro momento de fazer alguma próxima coisa, ficar assim, pescando as coisas, pegando o que ta por aí, é engraçado elas ficam meio por aí e você vai juntando e vou organizar tudo isso na cabeça. Mas eu mandei umas melodias. Mandei uma melodia para o Arnaldo pra ver se ele coloca uma letra, então eu to com umas parcerias assim, com Anelis Assunpção eu mandei umas coisas, tem uns outros amigos... enfim, to começando. Bem no comecinho, sabe? Então, sem muita previsão.

E a gente fica no aguardo do resultado dessa pescaria.

"Desde criança (música) é uma coisa que me atrai, que eu vou atrás. Acho que é uma das poucas coisas na vida que eu sei fazer e eu gosto muito de poder fazer. Eu sou
muito grato a essa oportunidade e não só grato, também procuro manter
e trabalhar para que isso continue acontecendo, para que essa chama continue
acesa." (Curumin)
ouça em http://www.myspace.com/curumin

2 comentários:

  1. Pois é, exatamente por isso que nós da Pangeia Produçôes estávamos a muito tempo querendo trazê-lo a Fortaleza. Quem teve a oportunidade e o prazer de ver/ouvir a apresentação dele no Acervo Imaginário já está esperando a volta.

    É BOM DEMAIS!!

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  2. Muito boa a entrevista! É bom saber que aqui no Ceará tem gente que curte boa música mesmo sem ser Mainstream e faz questão de divulgar. Realmente, quem tava no show sabe como foi bom!

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