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sexta-feira, 9 de julho de 2010

UM INCENTIVO ROCK’N ROLL

O escritor e jornalista Fernando Sabino deu um grande conselho para Erasmo Carlos quando disse o seguinte: “Erasmo, você quer escrever um livro? Comece.” Foi o que me contou o grande mestre do rock’n roll brasileiro quando lhe perguntei, em entrevista, na IX Bienal Internacional do Livro do Ceará, sobre o desenvolvimento da obra “Minha fama de mau” - por sinal, excelente. No evento, ele me deu três prazeres: o de assistir ao show, o de conhecer o livro e o de conceder, nos últimos cinco minutos que lhe restavam, antes de ir correndo para o aeroporto, a entrevista que segue abaixo.


.:Minha fama de mau, o livro
Apesar de contar um pouco da trajetória do mestre do rock’n roll brasileiro, “Minha fama de mau” é assumido como um livro de memórias e contos separados pelo autor com a ajuda da editora, que propôs fazer um fio condutor de todos os casos: os da infância, os da adolescência, os da jovem guarda, entre outras situações que rendem boas risadas ao leitor. Muitas personalidades da música brasileira são citadas, como Tim Maia, na época conhecido como Tião - quando jogavam bola e aprontavam todas; Maria Bethânia, que recebe do cantor um presente um tanto incomum; a excentricidade de Serguei; o 'Rato de Porão', João Gordo; além de Raul Seixas; Simonal; Gal; a supermulher Wanderléa; Roberto Carlos, seu amigo e parceiro de sucessos, claro, e muitos outros.

.:Rock’n roll, a música
Não que seja ruim tentar novos caminhos na música onde as possibilidades são infinitas, mas em 50 anos de carreira, Erasmo se manteve fiel ao gênero que o consagrou como músico e compositor. O humor e a ironia, por exemplo, na música “Cover”, satiriza o fato de existir Elvis negro, japonês, mulher, bebê Elvis, além dos Robertos Carlos, Rauls Seixas, Michaels Jacksons, os diversos Beatles covers e nenhum do Tremendão; o romantismo em “chuva ácida" e o iê-iê-iê continuam, com um toque contemporâneo, como na música “Celebridade”, onde se percebe o uso do efeito “Cher”, utilizado por muitos músicos atualmente.
Nesse álbum Erasmo já pode contar com a participação do baterista Gil Eduardo em “Noite perfeita”. Orgulhoso na entrevista, ele fala sobre os trabalhos do filho no blues, gênero pai do ROCK’N ROLL (uma troca feliz entre pai e filho).
Vendo muitas possibilidades com o advento da internet, o mestre demonstra preocupação com tudo tecnicamente perfeito, em suas palavras: “para que exista emoção, é preciso ter o erro também”.

.:A Entrevista

Marina Ratis – Quanto tempo você levou pra escrever o livro e como foi todo o processo para desenvolver esse trabalho?
Erasmo Carlos – Eu sempre quis escrever o livro. Comecei nos anos 80, não deu certo, parei. Um dia eu perguntei para o Fernando Sabino: "Como é que a gente faz para escrever um livro?" e ele me deu um conselho maravilhoso, ele disse: "Erasmo, você quer escrever um livro? Comece.". Foi um grande conselho. Então um dia lembrei disso e comecei a escrever contos engraçados, casos, causos que acontecem comigo pelas estradas da vida, minha infância, meus amigos, os de música, minha família...fui escrevendo quando vi já tinha um monte de casos, aí separei os da infância, os da adolescência, os da jovem guarda, outras situações e aí quando a editora se interessou, eles propuseram fazer um fio condutor desses casos unindo, mais ou menos, como se contasse um pouco da minha trajetória. Agora, eu não assumo como biografia. Assumo como memórias e contos mesmo.

M.R – Conta uma das aventuras com o Tim Maia que você cita no livro?
E.C – A gente foi criado junto, desde moleque e jogar bola, aquela coisa toda. Entre os vários casos com ele, eu posso contar um que ele entregava marmita, os pais dele eram donos de uma pensão e minha família pedia comida na pensão dos pais dele. Um dia a comida não chegava, o padrinho da minha mãe querendo ir trabalhar e reclamando que a comida não chegava, que ia chegar atrasado...então, eu fiquei possesso, saí de casa percorri o trajeto ao contrário que ele percorria - o Tim, mas que não era Tim ainda, era Tião, Sebastião era o nome dele e o apelido dele na infância era Tião. Então lá fui eu atrás dele, quando cheguei de repente, ele tava jogando bola na praça com as marmitas, tudo assim, do lado, na grama e de vez em quando ele chegava lá abria uma marmita, tomava um caldinho, que devia ser o caldinho de feijão ou sopa, comia um pastel e voltava pra jogar bola, aí eu fui lá reclamar com ele que puxou um ferro pontudo e correu atrás de mim, então eu vim correndo entrei em casa, fechei o portão, gritando, chamei minha família que ligou para os pais dele, fizeram queixa, aí ele ficou de castigo lá, quase um mês.

M.R – Sobre a música cover, do álbum mais recente, que não poderia levar outro nome senão, Rock',n roll. Como foi fazer essa música?
E.C – Foi engraçado porque nas viagens por aí pelo mundo eu vejo covers em todos os lugares, Los Angeles é covardia, toda hora eu deparo com cover de Elvis em todo o mundo: mulher Elvis, anão Elvis, negro Elvis, japonês Elvis, já vi bebê Elvis. Aqui no Brasil, você vê Roberto Carlos toda hora, cover de Raul Seixas, Beatles tem um monte de banda, Michael Jackson...e eu nunca vi um cover meu. Um dia eu falei: poxa eu não tenho um cover, nunca vi um cover de Erasmo Carlos, nunca vi nenhum cover meu, aí como eu sou geminiano, sou gêmeos, eu digo então eu vou ser meu cover e fiz uma música, logicamente com muito humor, abordando esse tema.

M.R - Como foi fazer a parceria com seu filho Gil Eduardo na música “Noite perfeita”?
E.C – Ah, legal. De vez em quando a gente toca junto que ele é baterista, ele toca, fez parte do Blues etílicos, que é um grupo famosíssimo de blues, hoje em dia ele toca no conjunto Os imorais e está atacando na banda do Big Gilson. É tudo blues, né? Já participei do disco dele e chamei/convidei ele pra gravar comigo, é uma satisfação muito grande, sempre, gravar com um filho meu. Tenho outro filho também que é cantor de uma banda chamada Trilogia lá do Rio...

M.R – Como é que o mestre vê o rock brasileiro atualmente?
E.C – Olha eu vejo um monte de possibilidades com internet essa coisa toda, então é uma mistura muito grande, é uma confusão, e muita gente. Não dá nem pra gente chegar e ver, apontar um nem outro porque é precipitado, porque é tão perfeito tudo hoje, é tão tecnicamente perfeito que eu sinto falta da emoção. Pra que exista emoção, é preciso ter o erro também, o erro é que faz a emoção, uma coisa muito perfeita a gente não detecta emoção, sabe? E isso me assusta um pouco e aí retarda uma análise que eu possa fazer.

E é seguindo o mesmo conselho de Fernando Sabino para Erasmo Carlos sobre escrever um livro que me senti motivada a criar este blog, mais um nesta rede cheia de informações. Aqui postarei meus trabalhos em vídeo, áudio e textos sobre algum assunto interessante.

Abaixo segue vídeo editado com imagens do tremendão e o áudio da entrevista.



ouça em http://www.myspace.com/erasmocarlos

3 comentários:

  1. Ratis, sua entrevista ficou óteeeema!! Excelente texto. =) Muito bom ver pessoas que curtem rock'n'roll reconhecerem quem foram os pioneirosdo gênero no nosso País.

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  2. Esse show foi inesquecível, quer dizer, irado. Logo no começo, no intervalo entre uma música e outra, eu falei alto (gritei) É PRECISO DAR UM JEITO, MEU AMIGO!, em referência à música do disco Carlos, Erasmo. Ele ouviu e disse: "Amigo, eu não entendi bem o que você falou, mas deve ter sido um elogio. Então, muito obrigado, muito obrigado." Palmas eufóricas se seguiram depois da sua fala. É uma boa e curta história pra contar pros amigos né: o dia em que eu "conversei" com Erasmo Carlos.
    Bjs!

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  3. hahahaha me lembro disso. Foi um show fantástico, fiquei impressionada com as diversas gerações presentes, crianças, adultos, idosos... foi muito divertido :)

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